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Publicado em 3 de Abril de 2025

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Inteligência Artificial e o Futuro da Cognição Humana: Evolução ou Declínio?

Analisando o Impacto da IA nas Capacidades Cognitivas: Desafios, Oportunidades e Perspectivas

Toda vez que uma nova tecnologia surge e impacta as capacidades cognitivas humanas, há uma discussão sobre seus impactos, como ocorreu com o surgimento da calculadora digital, dos sistemas de navegação por GPS, dos sistemas de busca na internet e agora, ainda mais com as ferramentas de inteligência artificial, gerando a dúvida sobre o futuro da inteligência humana.

No dicionário de Psicologia (Associação Psicológica Americana, 2010), pode-se encontrar a definição de inteligência como sendo a “capacidade de extrair informações, aprender com a experiência, adaptar-se ao ambiente, compreender e utilizar corretamente o pensamento e a razão”.

Será que ficaremos “menos inteligentes” por entregar à IA e seus agentes muitas tarefas que exigem memorização, raciocínio lógico e tomada de decisão?

Alguns pesquisadores e autores como Yuval Harari (Nexus), Nicholas Carr (A geração superficial), Sherry Turkle (Reclaiming Conversation - The Power of Talk in a Digital Age) e Jaron Lanier (You Are Not a Gadget: A Manifesto) creem que sim, com argumentos de que a tecnologia digitais e a inteligência artificial representa o declínio da capacidade humana de relacionamento, discernimento e contextualização, tornando mais superficial nossa capacidade de comunicação, raciocínio, pensamento lógico e empatia, gerando uma inteligência cada vez mais mediana, que leva a uma cultura de conformidade e mediocridade e até redução da inteligência emocional.

Por outro lado autores como Thomas Malone (Superminds), Howard Gardner (Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas) e o professor Silvio Meira, bem como pesquisadores brasileiros com Ricardo Gudwin e Romero Tori, acreditam que as ferramentas de IA contribuirão para a inteligência coletiva, como um catalisador da eficiência humana, nos levando ao conceito de “Inteligência Aumentada”, proporcionada pela sinergia entre humano-máquina, sendo natural que nossas habilidades cognitivas se modifiquem com o uso da IA, abrindo “espaço no cérebro” para mais reflexão e criatividade. Para que isto ocorra é preciso conjugar a IA com as inteligências individual e social para resolver problemas em uma escala completamente diferente da que estamos lidando até agora.

A visão negativa dos autores sobre a IA é um importante alerta para líderes organizações e profissionais usuários, pais, educadores e estudantes refletirem sobre o uso consciente e responsável da IA, sem que provoque a perda do raciocínio lógico e discernimento sobre qualquer um dos “entregáveis” desta tecnologia, principalmente na modalidade de IA generativa.

Entretanto, eu comungo da visão mais otimista, por acreditar que o sucesso está no equilíbrio, e no utilitarismo das ferramentas de IA, pois não haverá sentido em utilizar algoritmos que excluam o poder de decisão, a autonomia e o livre arbítrio humano. A IA deve ser uma aliada no apoio à tomada de decisão, uma poderosa ferramenta complementar às características e valores intrínsecos dos humanos.

Por mais que a IA interfira em nossa capacidade cognitiva, não olvidemos que somos a razão de sua existência e por isto detemos o comando da tecnologia e “senhores” da inteligência. Em sua teoria das múltiplas inteligências humanas, o professor Howard Gardner mostra que a inteligência é na verdade um quebra-cabeça composto por oito peças: inteligências linguística, lógico-matemática, espacial, corporal-cinestésica, interpessoal, intrapessoal, naturalista e musical.

As máquinas atuais, operando com os recursos avançados de computação e treinadas com os LLM´s (Large Language Models) na IA Generativa, já superam os humanos na inteligência lógica-matemática (na análise e capacidade de processamento de dados) e na inteligência linguística (capacidade de entender vários idiomas e realizar traduções) e avançam rapidamente na inteligência espacial (ação que requer visão periférica para tomada de decisão, como nos carros autônomos), na naturalista (compreensão dos fenômenos da natureza), na físico-cinestésica (com robôs substituindo humanos nas linhas de montagem das fábricas ou que até dançam e jogam ping-pong) e na inteligência musical. Entretanto a IA ainda requer muito treinamento para superar humanos na inteligência interpessoal (comportamento em ciclos sociais, para entender as intenções e desejos das pessoas) e talvez nunca atinjam plenamente a inteligência intrapessoal (capacidade de desenvolvimento para alcançar objetivos pessoais e melhor compreensão de si mesmo), nem possa “tomar decisões acertadas e compreender os mais diversos assuntos, de acordo com o seu interesse e necessidades”, pois a máquina não tem interesses próprios, mas se comportam de acordo com os desejos dos seus criadores.

Assim, podemos entregar à IA uma série de tarefas rotineiras e analíticas que gerem produtividade, mas sem perder a sabedoria humana. Ser inteligente significa desenvolver e aprofundar os conhecimentos e as habilidades, o que a IA busca fazer. Ser sábio significa compreender como utilizar adequadamente tudo que a tecnologia nos oferece, com vistas à felicidade do indivíduo e de quem estiver ao seu redor, o progresso e o bem-estar econômico e social, valores que nenhuma IA terá capacidade plena de entender e praticar.

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Sobre o Autor

Durval Jacintho

Durval Jacintho

Diretor

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