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Publicado em 23 de Abril de 2020

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As novas carreiras “digitais” e a Inteligência Artificial

Muito mais do que uma ameaça, como qualquer tecnologia que promove grandes mudanças sociais, a Inteligência Artificial pode ser vista como uma grande oportunidade para carreiras e para os negócios.

Muito se fala da perda de empregos, da ameaça que a Inteligência Artificial impõe aos humanos, especialmente as profissões de alto grau de escolarização. O receio é que a tecnologia possa ocupar, executando de maneira mais rápida e melhor, o espaço de homens e mulheres em suas profissões.


Na minha leitura, as pessoas que vem na tecnologia uma grande ameaça aos humanos e seus empregos ou superestimam a capacidade dos algoritmos de “pensarem” como nós, ou subestimam a capacidade de nós, humanos, criarmos, sermos empáticos, e o papel dos soft-skills e emoções em nossas vidas.


É indiscutível que a tecnologia de Inteligência Artificial vai mudar a vida e impactar na profissão de praticamente todos no planeta. Muitas das atividades repetitivas e definidas em rotinas claras e bem formuladas, que demandam algum tipo de cognição humana, não precisarão ser executadas exclusivamente por pessoas. São várias evidências neste sentido.


Em janeiro deste ano, um algoritmo construído pela Google superou médicos em análise de imagens de câncer de mama tanto em relação aos falsos positivos (menor taxa de classificação de pessoas como portadores de câncer quando na verdade elas não possuíam a doença) quanto em relação aos falsos negativos (menor taxa de classificação de reais portadores de câncer diagnosticados como livres da doença). Confira aqui: https://www.ft.com/content/3b64fa26-28e9-11ea-9a4f-963f0ec7e134).


A tecnologia também apresenta resultados surpreendentes contra advogados na revisão de documentos (https://mashable.com/2018/02/26/ai-beats-humans-at-contracts/), contra leitores avidos na compreensão de textos (https://www.cnet.com/news/new-results-show-ai-is-as-good-as-reading-comprehension-as-we-are/) e contra gamers no jogo de estratégia StarCraft II (https://www.nature.com/articles/d41586-019-03298-6), entre outros feitos.


E independentemente do contexto em que estes algoritmos foram testados, uma coisa parece evidente, a tecnologia tem alcançado patamares de performance cada vez melhores, e muitas vezes, em dadas situações, superiores ao melhor da nossa espécie, quem dirá, em relação ao cidadão comum. Kasparov, nosso melhor enxadrista por muito tempo, e Ke Jie, nosso melhor jogador de “Go”, que o digam.


Algumas coisas importantes que não são ditas neste debate. Há ainda uma enorme necessidade humana em vários aspectos da evolução, da utilização e da criação de valor ao se utilizar tecnologias relacionadas a Inteligência Artificial.


Na evolução da tecnologia se faz necessário profissionais capacitados em pelo menos duas grades áreas de conhecimento: a matemática e a ciência da computação. Na verdade, essas são profissões com demanda crescente por profissionais, e quem hoje estiver uma boa formação em áreas como Matemática, Estatística, Ciência da Computação, Engenharia da Computação entre outras áreas afins, tem o desafio de escolher entre as grandes oportunidades que lhes são apresentadas.


É importante compreender a natureza dos dados, as diferentes maneiras de organizá-los, os processos mais eficientes de busca, e resolução de problemas através de algoritmos. Estatísticos que conhecem a diferença entre uma classificação hierárquica de agrupamentos, em relação a uma clusterização por centróides (k-means), a diferença entre regressão linear, regressão polinomial, e a regressão logística e em que problemas e situações elas podem ser aplicadas, ou ainda de um algoritmo “A*”, ou uma abordagem MAX-MIN numa árvore de decisão, tem muito a contribuir para escolhas mais eficientes na resolução de problemas reais. Na guerra entre algoritmos que as empresas do futuro vão competir, eficiência e eficácia são direcionadores de sucesso. Para se chegar a elas, a estratégia de abordagem dos dados, decorrentes da compreensão destes campos de conhecimento e da criatividade e imaginação humana, são diferenciais importantes de qualquer profissional, especialmente em relação as máquinas.


Uma segunda demanda de profissionais, que ainda não chegou ao seu auge, e caminha pouco a pouco para ser imprescindível nas organizações e empresas são os especialistas de negócio que dominam aspectos fundamentais da tecnologia.


Os melhores algoritmos de diagnose de imagens tem nas equipes de desenvolvedores, médicos profundamente conhecedores dos elementos da medicina e saúde. Os melhores algoritmos de precificação precisam de pessoas que conheçam bem a dinâmica de negócios de sua empresa. Aplicações de Inteligência Artificial em recrutamento de pessoas precisam avaliar como é a melhor estratégia de avaliação de competências e atributos, entre outras coisas.


Analistas de negócios que possam trabalhar junto com as equipes de modelagem de dados e de tecnologia passam a ser essenciais para produzir soluções robustas. Gestores que consigam avaliar as diversas soluções disponíveis no mercado para escolher qual serviço ou produto deve ser adquirido para resolver qual problema de negócios é um diferencial importante.


Em especial, ter lideres e uma alta gestão “digital” que busque e avalie todas as diversas oportunidades de aplicação da tecnologia em seus processos, produtos e serviços é algo que vai ser valorizado cada dia mais pelas empresas. Neste sentido, há uma necessidade crescente de lideres que possam construir a transformação organizacional de maneira responsável, eficiente e de resultados.


Conseguir construir a transição de empresas tradicionais para empresas mais preparadas para o mundo digital ainda é para poucos. Essas competências digitais e em Inteligência Artificial, deverá fazer parte, num curto espaço de tempo, da lista de qualificações obrigatórias e desejáveis nos profissionais mais procurados pelas empresas. São profissionais de todas as áreas que tenham um conhecimento básico sólido dos principais conceitos e tecnologias ligadas a Inteligência Artificial e uma capacidade de encontrar oportunidades de melhoria e otimizações em todos os espaços das organizações.

Da mesma forma que os computadores, e alguns anos depois, a internet, invadiram todos os departamentos de uma empresa, as tecnologias de Inteligência Artificial assim o farão. E os profissionais que conseguirem dar vazão a esta mudança serão cada vez mais valorizados.


Por fim, visionários que compreendam e tenham insights de como deve ser nosso futuro e as necessidades, expectativas, dores e desejos da nova geração de clientes, usuários e consumidores são profissionais que devem ser disputados a tapa. Empresas que possuam profissionais que possam não só aumentar a qualidade e a performance dos processos, produtos e serviços de uma organização, como também criar novos modelos de negócios, produtos e serviços inovadores utilizando o melhor das novas tecnologias e da Inteligência Artificial são profissionais raros, que dada a possibilidade de empreendedorismo para novas ideias em suas próprias startups, precisam ver nas grandes e médias organizações espaço e incentivos para que possa preferir a segurança e os benefícios do intra-empreendedorismo.


Assim, em minha perspectiva, muito mais do que uma ameaça, como qualquer tecnologia que promove grandes mudanças sociais, a Inteligência Artificial pode ser vista como uma grande oportunidade para carreiras e para os negócios. A questão é muito mais: como eu devo me preparar para garantir uma carreira profissional bem sucedida nos próximos anos, do que se a minha profissão vai ou não vai deixar de existir.



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Sobre o Autor

Alexandre Del Rey
Sempre aprendendo

Alexandre Del Rey

Conselheiro & Founder I2AI

Conselheiro fundador da I2AI – Associação Internacional de Inteligência Artificial. Também é sócio-fundador da Engrama, sócio da Startup Egronn, e na consultoria Advance e investidor na startup Agrointeli . Tem mais de 20 anos de experiência em multinacionais como Siemens, Eaton e Voith, com vivência em países e culturas tão diversas como Estados Unidos, Alemanha e China.
Palestrante internacional, professor, pesquisador, autor, empreendedor serial, e amante de tecnologia. É apaixonado pelo os temas de Estratégia, Inteligência Competitiva e Inovação.
É Doutor em Gestão da Inovação e Mestre em Redes Bayesianas (abordagem de IA) pela FEA-USP. É pós-graduado em Administração pela FGV e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp.

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